A França, muito mais do que outros países industrializados, conhece mais movimentos sociais decorrentes de contestações das reformas. Isso acontece por causa das origens do sindicalismo, bem como de suas particularidades e de suas evoluções. Comprovando a indiferença, desinteresse e ausência de engajamento dos assalariados, o país é visto como sub-sindicalizado e, até mesmo, "a-sindicalizado", tendo um dos mais fracos sindicalismo do mundo com uma taxa de sindicalização, com relação à população ativa assalariada, de apenas 8% em 2002.
Há sete especificidades ligadas à história e à organização do movimento sindical que contribuíram consideravelmente para a atual situação:
A recusa do mutualismo - o movimento operário foi construído na clandestinidade e nas lutas sociais, tendo a característica de revolucionário por influência do socialismo e do anarquismo. Pela lei Waldeck-Rousseau de 21 de março de 1884, a República outorgou aos sindicatos o direito de constituir-se livremente sem autorização do governo. Sendo, então, enquadrados em um sistema de serviços, são convidados a desenvolver bibliotecas, agências de empregos e cooperativas. No final do século XIX, o sindicalismo passou a preferir a luta das classes adotando o capitalismo como inimigo comum à classe operária (Marx); não sem razão, pois em 1893 a implantação de sindicatos é definida como uma "mancha vermelha". Entretanto, a recusa ao sindicalismo de serviços explica a desafeição original dos assalariados.
Opção revolucionária - a CGT*, criada em 1895, é revolucionária, anticapitalista, antimilitarista, anticlerical e prega a ação direta para o desaparecimento do proletariado e do patrão. Nasce, em 1919, a CFTC*, com base na encíclica papal Rerum novarum, hostil à luta de classes e com o objetivo de remodelar a sociedade pela aplicação dos princípios de justiça e de caridade cristã. Visando uma revolução, sem nunca chegar a ela, a CGT adota por arma a greve geral preconizada pelos anarco-sindicalistas, lutando pela suspensão universal da força produtiva em todas as profissões.
Divisões políticas - a Carta de Amiens, texto fundador da independência do sindicalismo, adotada pela CGT em 1906, proibia a cada sindicato a introdução de idéias professadas exteriormente e definia um sindicato auto-suficiente para mudar a sociedade. Porém, cada sindicato foi fundado com base em uma recusa política, sendo modelado, desta forma, por divisões políticas que enfraquecem a apreciação sindical.
A "grevecultura" antes da negociação - o sindicalismo tem necessidade da cultura da greve, profundamente enraizada, para tentar impor uma relação de negociação entre proletário e patrão. Obtendo vitória, ao contrário de vários países europeus, o benefício é para todos e não somente para membros de determinados sindicatos, apesar disso, muitos consideram os parcos resultados positivos e o constante desprezo de patrões para com empregados.
Queda do domínio do setor público - com o passar do tempo, o setor privado ganhou terreno nos sindicatos diminuindo a atuação do setor público, desencadeando, assim, a redução da defesa operária.
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